quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Famílias deixam prédio e prometem acampar em ruas centrais de SP (Postado por Lucas Pinheiro)

As cerca de 230 famílias que ocupavam um prédio na esquina das avenidas São João e Ipiranga, no Centro de São Paulo, deixaram o edifício nesta manhã e informaram que pretendem acampar nas ruas centrais da cidade caso não haja encaminhamento delas por parte da Prefeitura após o cumprimento da reintegração de posse no imóvel. A ordem judicial deve ser realizada nesta quinta-feira (2).

Os trabalhos estavam programados para iniciar às 7h. Voluntariamente, as famílias desceram e ocuparam a calçada. Entretanto, lideranças dos moradores pediram à Polícia Militar que aguardasse a chegada de um representante da Prefeitura para negociar o encaminhamento das famílias. Por volta das 8h30, segundo a PM, o representante já havia chegado ao imóvel. A retirada dos tapumes e dos pertences das famílias começou por volta das 8h50.

De acordo com a PM, a situação era pacífica no local, no horário. Segundo o major Marcos Félix, será feita uma varredura no imóvel e os tapumes que faziam a divisão das famílias e seus pertences mais pesados serão retirados. Caminhões foram disponibilizados para levar os itens para um depósito judicial.

A autora da ação de reintegração de posse é a empresa Afim Brasil que havia locado o prédio havia cerca de um ano para montar um negócio. Segundo seus advogados Cléber Marega Perroni e Gerson Miguel, o edifício estava sendo reformado quando houve a invasão há cerca de três meses. Eles afirmaram que a reforma estava na fase estrutural e que a empresa continua pagando o aluguel. Por isso, foi necessário entrar com a ação de reintegração de posse.

De acordo com Osmar Silva Borges, um dos líderes da Frente de Luta por Moradia, a maior parte das famílias não tem para onde ir. “Não dá mais para fazer favela na periferia. As que tem, o Kassab vem removendo e essa não é a luta das famílias. Estamos discutindo com as famílias que é preciso ocupar o Centro. Essa luta dos movimentos é para fazer com que os prédios vazios sejam transferidos para moradia e atendam a essas famílias que hoje não têm acesos às linhas de financiamento imobiliário”, disse Borges.

Segundo ele, a reintegração de posse deverá ocorrer de forma tranquila, pois não há interesse do movimento em entrar em confronto com a polícia.

A auxiliar de limpeza Miriam Alves Moreira, de 45 anos, é uma das pessoas que ficará sem ter onde morar após a reintegração de posse. Ela ficou cerca de um mês em outro prédio antes de passar dois meses no imóvel alvo da reintegração nesta quinta. “A gente pagava aluguel em Parelheiros. Eram dez pessoas em uma casa e estava todo mundo desempregado. Não tinha condições de pagar R$ 250 por mês. Ou a gente comia mal ou pagava aluguel. Agora, vamos ficar no meio da rua. Esperar [pra ver] o que a Prefeitura vai fazer. Estamos na luta. É doloroso, mas é o que podemos fazer”

No início desta manhã, Miriam recolhia seus pertences para levá-los consigo. Entretanto, ela ainda não sabia o que faria com o seu fogão. “Quero levar ele comigo, nem que seja para ficar na calçada”, comentou.

O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Police Neto, esteve no local da reintegração nesta manhã. Segundo ele, a cidade vem tentando solucionar o problema de falta de moradia. “Estamos tentando dar cabo naquilo que a legislação federal determinou: a função social da propriedade. Ano passado, mais de 3 milhões de m² foram notificados para que o proprietário faça cumprir a função social. O que a gente quer é o acompanhamento para que esses proprietários coloquem esse imóveis no mercado, especialmente para a população de baixa renda”, disse o vereador.


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