A bacharel em direito e técnica em enfermagem, Elize Araújo Kitano Matsunaga, de 38 anos, participou na noite desta quarta-feira (6) e madrugada desta quinta-feira (7) da reconstituição da morte e esquartejamento do marido dela, o diretor-executivo da Yoki Marcos Kitano Matsunaga, de 42 anos, no apartamento onde ocorreu o crime, na Vila Leopoldina, na Zona Oeste da capital.
Ela confessou à polícia nesta quarta-feira ser a autora do homicídio e esquartejamento da vítima.
Depois de prestar depoimento durante oito horas na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Elize foi levada à noite ao edifício onde morava com Marcos e a filha de pouco mais de 1 ano. Ela chegou ao local por volta das 20h55. Peritos já estavam no apartamento para dar continuidade ao trabalho de complementação da perícia que se iniciou na noite de segunda-feira (5), quando utilizaram o luminol, um reagente químico, para tentar encontrar manchas de sangue na cozinha, no quarto do casal e na área de serviço. Desta vez, os reagentes foram utilizados nos cômodos apontados por Elize.
Para a sequência dos trabalhos nesta quarta-feira, os peritos levaram um boneco para auxiliar na reconstituição do crime, que teve início pouco depois das 21h e terminou às 0h30, de acordo com o delegado do DHPP, Mauro Dias. Aos peritos, Elize indicou o local onde alvejou o marido, por onde o arrastou e onde realizou o esquartejamento. Em todos os pontos indicados, os peritos encontraram vestígios de sangue humano, segundo o perito criminal Ricardo da Silva Salada.
"Todos os locais estavam coerentes com os vestígios encontrados. Ela atirou nele na sala e depois o arrastou até um quarto de hóspede, uma distância de 15 metros. O luminol indicou por onde ela foi arrastado e depois onde o esquartejou, no banheiro da empregada. A versão dela foi comprovada com reagentes. Um destes reagentes comprovou que se trata de sangue humano. Agora o exame de DNA deverá comprovar que é o sangue do Marcos. Com a simulação, temos a comprovação de toda a dinâmica do crime", disse Salada.
Segundo o perito criminal, a arma utilizada no crime, uma pistola .380, estava em uma gaveta na sala onde ocorreu o homicídio. Elize teria se emocionado em alguns momentos da reconstituição. "Mas creio que muito mais por preocupação do que vai ocorrer com a filha. Em termos de arrependimento, não me pareceu", disse. Pouco antes da 1h da madrugada de quinta, Elize saiu em um carro da Polícia Civil e foi levada para a delegacia de Itapevi, na Grande São Paulo.
O delegado do DHPP Mauro Dias acompanhou a reconstituição e a conclusão do trabalho da perícia, finalizado totalmente às 2h30, no apartamento. "Ela apontou e detalhou tudo sobre o que ocorreu no dia dos fatos. Inclusive, carregou malas com pesos aproximados com os dias do crime. Agora vamos em busca de provas que confirmem ou não a versão dela", disse Dias.
A polícia retirou do apartamento 30 armas, entre elas pistolas, fuzis e até submetralhadora, que faziam parte da coleção do diretor-executivo da Yoki, por uma medida de segurança. "É para a tranquilidade dos moradores. As armas vão ser guardadas no cofre do DHPP e consultaremos o Exército sobre qual o procedimento a ser tomado. As armas são todas regularizadas e autorizadas para uso de colecionador", afirmou Dias.
Imagens divulgadas
Polícia Civil divulgou na noite desta quarta-feira as imagens das câmeras de segurança de um prédio na Vila Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo, que mostram o que aconteceu antes e após a morte de Marcos Kitano Matsunaga.
As imagens do edifício onde o casal morava mostram Marcos entrando no prédio no dia 19, mas não registram sua saída. No dia seguinte, a gravação mostra Elize saindo do elevador, levando três malas com rodinhas. E mostra também a volta dela, 12 hora depois, sem as malas.
Traição
Durante o interrogatório nesta quarta, que durou cerca de oito horas, Elize disse à polícia que matou o marido com um tiro na cabeça após discutir com ele por causa de uma suposta traição, segundo o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Jorge Carlos Carrasco. A mulher afirmou ainda que foi agredida pelo executivo e que, por isso, atirou.
"Não houve premeditação, houve uma briga”, disse o diretor do DHPP. Questionado sobre o fato de nenhum vizinho ter ouvido o som do disparo, Carrasco respondeu que o apartamento, além de ter uma área grande (é um triplex), tem janelas antirruído.
Elize tinha uma filha de 1 ano com o executivo da Yoki. Ela é bacharel em direito e técnica em enfermagem e está presa desde segunda-feira (4) por suspeita de assassinato. A Justiça concedeu a prorrogação da prisão dela por mais 15 dias.
O delegado informou que Elize confessou que o crime foi passional e provocado por uma traição. A arma usada no assassinato é calibre 380 e já está com a polícia, segundo Carrasco.
A mulher contou em depoimento que, após atirar no executivo, arrastou o corpo até um quarto, onde usou uma faca de 30 centímetros para esquartejar o cadáver. “Por ser conhecedora de anatomia humana, por ter feito um curso de enfermagem, ela pegou uma faca e cortou nas juntas, nas cartilagens”, disse Carrasco.
A ausência de sangue, segundo o delegado, deveu-se ao tempo passado entre a morte e o desmembramento. “Ele já estava com rigidez cadavérica. O sangue estava coagulado.” Segundo relato dela à polícia, as partes foram colocadas em três malas e espalhadas em uma área de mata em Cotia, na Grande São Paulo.
A pistola 380 usada no crime vai ser periciada e já está com os policiais. Segundo Carrasco, a mulher contou que a arma foi um presente do marido.
Ambos praticavam tiro e o empresário tinha uma coleção de armamentos. O delegado acrescentou que Matsunaga, assustado com as notícias de arrastões em condomínios, deixava por precaução armas espalhadas pelo apartamento e que uma delas foi a que o matou.
Agora, a polícia irá buscar a faca e as malas usadas no crime. Policiais do DHPP retornarão ao apartamento para novos testes com reagente químico para localizar manchas de sangue. Uma das babás da filha do casal também deve depor. Ela e a empregada foram dispensadas por Elize horas antes do desaparecimento de Matsunaga, em 19 de maio.
Em depoimento, Elize disse ter feito tudo sozinha. Para o delegado, sua versão é convincente. “Não tenho dúvida da autoria nem da materialidade. Acredito que ela agiu sozinha."
Desde o dia em que foi presa, o G1 tenta contato com o advogado de Elize. Nesta tarde, o advogado José Beraldo informou que chegou a conversar com a bacharel, mas que ela afirmou que seu defensor será um professor do curso de direito onde ela estudou.
Advogado da família da vítima, Luiz Flávio D'Urso elogiou a investigação da polícia. “Quero fazer um reconhecimento público do trabalho de investigação do DHPP. A confissão é uma prova importante do processo, mas ela ganha relevo ainda maior quando está em perfeita sintonia com todo o conjunto probatório colhido nesta investigação.”
Detetive particular
A polícia tenta identificar o detetive particular que foi contratado por Elize para investigar se o excutivo a traía. Ele é procurado para que seja intimado a prestar depoimento sobre seu trabalho. Policiais informaram à equipe de reportagem do G1 que o profissional seguiu o executivo e comprovou a infidelidade dele. Fotos e relatórios sobre três supostas amantes foram enviadas para a bacharel. No computador da vítima, peritos da Polícia Técnico-Científica identificaram acessos a sites de prostituição.