A mãe do empresário Ricardo Prudente de Aquino afirmou durante o enterro do filho, nesta sexta-feira (20), que a maconha que a Polícia Militar disse ter encontrado no carro dele “foi plantada”. Segundo a corporação, havia 50 g da droga no veículo. Aquino morreu depois de ser atingido por disparos feitos por policiais militares na noite de quarta-feira (18), na Zona Oeste de São Paulo, durante uma tentativa de abordagem.
“Você sabe que é plantada. Ele era um mergulhador”, afirmou Carmem, ao ser questionada se Aquino era o dono da droga. Após as críticas da família, a PM divulgou nota na qual afirma que investiga o caso. "A Polícia Militar, através de sua Corregedoria, apoia a Polícia Civil e auxilia na investigação do caso. Não corroboramos com qualquer tipo de infração ou irregularidade praticada por nosso efetivo."
O delegado Dejair Rodrigues, da Seccional Oeste, afirmou que o inquérito irá investigar como a droga foi parar dentro do carro e se o celular entregue à família pertencia mesmo ao empresário. “Pressupõe-se que o policial militar fale a verdade, mas o inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias do crime, porque a autoria já está esclarecida”, disse.
Rodrigues informou que a polícia busca eventuais testemunhas da abordagem e do percurso percorrido pelo carro do empresário durante a perseguição policial. A Polícia Civil investigará também a suspeita de que o telefone entregue à família não pertencia ao empresário.
Sepultamento
Muito emocionada durante o enterro que foi realizado nesta manhã no Cemitério Gethsemani, no Morumbi, na Zona Sul, Carmem fez um apelo por justiça e disse que pretende mobilizar imprensa e amigos por mais segurança.
Pouco antes do sepultamento, amigos e familiares fixaram no chão do cemitério pequenas bandeirolas com mensagens escritas durante o velório. Fincadas na terra com a ajuda de um palito, elas foram dispostas na forma de um grande coração. As mensagens foram jogadas posteriormente sobre o caixão.
Os familiares também criticaram o poder público. “Você fazendo esta justiça, você pode corrigir os vários erros administrativos existentes. Não se pode ter alguém incompetente numa administração tão alta, onde eles põem pessoas que não estão em nível da obrigação que lhes compete. Colocaram gente que não está com preparo. Vem desde lá de cima”, afirmou o pai.
Os dois soldados e um cabo da PM que participaram da tentativa de abordagem e perseguição que terminou com a morte de Aquino foram detidos. Segundo a PM, o empresário teria fugido de uma abordagem policial.
Para Renato, que se identificou como irmão do empresário, é preciso “dar um basta” à violência. “Chega dessa barbárie. Ele foi brutalmente assassinado. Tem que dar um basta. Não foi em vão que ele morreu. Forçar a autoridade a fazer alguma coisa, por gente competente na rua”, declarou.
A operação
De acordo com o boletim de ocorrência, os policiais militares observaram que o veículo do empresário, um Ford Fiesta, trafegava em alta velocidade e começaram uma perseguição. Outros carros e motos da PM fizeram o reforço.
Ao chegar à Avenida das Corujas, no Alto de Pinheiros, Fiesta foi fechado um carro da polícia. Sem que o motorista reagisse, os PMs atiraram. Um disparo atingiu a têmpora do publicitário. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Segundo a Polícia Civil, os disparos foram dados a curta distância.
Os três PMs - um cabo e dos dois soldados - foram autuados em flagrante por homicídio doloso e levados para o Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte. A polícia aguarda a divulgação dos laudos da perícia para saber de quais armas saiu os disparos.
Polícia
O subcomandante geral da PM, coronel Hudson Camilli, disse nesta quinta-feira (19) que a ação dos policiais foi "tecnicamente correta", porém sem "justificativa legal". De acordo com ele, a fuga do empresário no momento da abordagem teria levado os policiais militares a imaginar que o motorista estava armado e portanto haveria ameaça à vida dos policiais.
“No aspecto técnico, a ação deles não pode ser criticada. A ação foi feita imaginando que haveria injusta agressão contra eles, mas o indivíduo não estava armado portanto existem reparos a serem feitos no aspecto legal. Não havia justificativa legal para a ação”, disse.
Camilli afirmou que a reação dos policiais foi baseada em aspectos subjetivos. “É um momento crítico. O cidadão desobedeceu uma ordem legal da polícia e dali para frente qualquer circunstância é muito complicada”, argumentou. "Legalmente a postura foi inadequada, não atendeu aos pressupostos legais, de forma que eles [os policiais] estão sendo presos em flagrante."