Os três policiais militares que participaram da abordagem que terminou na morte do empresário Ricardo Prudente de Aquino, em avenida no Alto de Pinheiros, bairro nobre de São Paulo, falaram pela primeira vez à imprensa sobre o caso. Em entrevista exclusiva ao G1, eles afirmam que o único responsável pelo assassinato foi a própria vítima.
Na noite de 18 de julho, os PMs seguiram o Ford Fiesta do empresário após serem avisados por rádio que Aquino não teria obedecido a uma ordem de parada. Na Avenida das Corujas, Zona Oeste da capital, os policiais bloquearam a rua, desceram da viatura e atiraram sete vezes contra o carro do empresário. Eles dizem que a vítima tentou fugir mesmo com a rua bloqueada e que confundiram um celular que Aquino segurava com uma arma.
O cabo Adriano Costa da Silva, de 26 anos, e os soldados Robson Tadeu do Nascimento Paulino, de 30, e Luis Gustavo Teixeira Garcia, de 27, pediram desculpas aos parentes da vítima, mas afirmaram que são inocentes, que não tiveram conduta que justifique uma eventual expulsão da PM e que julgam ter agido corretamente ao disparar quando se sentiram ameaçados. Para eles, Aquino teve uma conduta de criminoso.
Os três foram entrevistados na sede do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na Luz, região central. A entrevista, realizada na terça-feira (28), foi acompanhada por oficiais da PM, por um representante da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e pelos advogados dos policiais.
Os policiais chegaram a ser presos logo após o assassinato, mas foram libertados por determinação da Justiça. Atualmente, fazem serviços internos na corporação. Até esta terça, o Ministério Público (MP) aguardava laudos para oferecer denúncia à Justiça por homicídio doloso e fraude processual. Caso a denúncia seja aceita, eles passarão a ser considerados réus.
Versão dos policiais
Ao descreverem como foi a abordagem na Avenida das Corujas, os policiais disseram que Aquino teve o caminho cercado pelo carro da Polícia Militar, foi alertado com ordem para sair do veículo, mas que mesmo assim chegou a esboçar reação. "Ele fingiu que ia parar o veículo, porém, ele ainda avançou", afirmou o soldado Robson. "Ele tentou a passagem, esboçou a reação", complementou o soldado Luís.
Na versão do trio, os disparos só ocorreram após um momento bastante específico: quando houve a tentativa de fugir do bloqueio na avenida e os PMs perceberam um objeto na mão do empresário. "Foi no momento que ele forçou a passagem, não conseguiu e fez um movimento brusco com um objeto na mão que, por todas as circunstâncias da ocorrência, parecia ser arma de fogo", disse cabo Adriano. "Ele adotou todos os procedimentos que um criminoso em fuga adota. Fez de tudo para fugir até o último minuto", argumentou Adriano.
Cabo Adriano disse que, ao perceberem o movimento brusco dentro do carro, todos atiraram em sequência e só depois descobriram que Aquino não tinha arma. "A gente só percebeu que ele não estava armado quando conseguiu abrir o carro e não encontramos a arma", disse o cabo. "Bateu um desespero porque, enfim, fiquei com medo de toda essa repercussão", disse Adriano, ao comentar o que sentiu logo após constatar o resultado da abordagem.
O soldado Robson, que admitiu ter sido o responsável pelos tiros fatais que atingiram a cabeça do empresário, pediu desculpas à família de Aquino pela morte da vítima. "Peço a Deus todo dia para que conforte a família do Ricardo. Peço perdão por todos os atos que aconteceram. E (quero) retomar a carreira e seguir para frente", disse. "Se a gente soubesse que seria um empresário, não atiraríamos", afirmou.
Fraude processual e droga plantada
Além de terem sido criticados pela forma como abordaram o empresário, os policiais foram acusados pelo Ministério Público de alterar a cena do crime, recolhendo cápsulas. Outra suspeita levantada veio da família de Aquino, que afirma que a droga achada no carro foi plantada. Cabo Adriano refuta ambas as acusações.
"Não dá para afirmar que alguém mexeu em alguma coisa (na cena do crime). Nós admitimos que atiramos. Nós não temos motivo para recolher cápsula, isso pode nos prejudicar, inclusive. E quanto à droga, o laudo vai dizer se ele era usuário de droga", afirmou Adriano.
Em 26 de julho, o Secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto disse que os PMs serão demitidos "a bem do serviço público". Entretanto, o trio tem sonhos de permanecer na polícia e acredita ser inocentado no processo. "A gente só atirou por se sentir realmente ameaçado. Isso configura legítima defesa e acreditamos que temos chance de ser inocentados. E, sendo inocentado, não há desvio de conduta para sermos expulsos da PM", afirma Adriano.
Nenhum deles afirmou ter planos alternativos caso sejam expulsos da corporação. Com sete anos de serviço, Robson diz que planeja ser oficial. Adriano, que há seis anos é policial, afirmou que já estudava para tentar ser sargento, enquanto Luís disse ter planos mais objetivos. "Meu sonho é conseguir me aposentar sem maiores problemas", disse o soldado.
Os advogados Aryldo de Paula, Márcio Modesto e Claudinei Xavier, que defendem os três policiais, disseram que vão sustentar que seus clientes agiram no estrito cumprimento da lei e só atiraram para se protegerem.
"O que eles querem é trazer a verdade. A verdade é: eles confundiram o celular da vítima com uma arma. Os policiais foram corretos na ação e não falharam. [Quem falhou foi] o próprio publicitário. Jamais, ninguém, em lugar como esse deve gesticular de forma bruta numa abordagem policial. Ninguém em sã consciência, quando é abordado, coloca a mão na cintura, aponta algo para os policiais. Isso daí é um suicídio", disse Aryldo de Paula.
Defesa da família contesta
O advogado Cid Vieira, que defende os interesses da família de Aquino, contestou as declarações dos três suspeitos. "As imagens desmentem categoricamente a versão dos PMs", disse ele, que já pediu a Justiça uma nova reconstituição. "O que eles haviam dito na reprodução simulada não foi verdade". Ricardo tinha 39 anos e era casado com a publicitária Lélia Pace Prudente de Aquino, de 35. O casal não tinha filhos.
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